1.10.10

desabafo contra os pichadores por marcela tiboni

Invasão, pichação, agressão, desrespeito. Até quando a Bienal vai permitir isso, eu me pergunto?

É com irritação e revolta que leio os novos casos de pichação nesta Bienal, mas confesso que não acho surpreendente a reincidência dos casos. Eu fazia parte da equipe de supervisão do educativo da 28º Bienal de São Paulo, e estava trabalhando junto da minha equipe composta por 30 educadores quando a Bienal foi invadida as 19h por cerca de 50 pichadores. A história veiculada na imprensa foi a de que os pichadores invadiram, picharam e conseguiram fugir. O que vi naquela noite foi um pouco diferente. Eu vi visitantes e membros da imprensa aplaudindo a ação, eu vi inúmeras pessoas fazendo um cordão de isolamento para proteger e auxiliar a fuga dos pichadores e, pior, eu vi e sofri as agressões deixadas pelo caminho da fuga.

Eu fui “premiada” com uma voadora na altura do estômago por um pichador que tentava fugir pela rampa e como não via espaço para a fuga entre aqueles que estavam na rampa ele “abriu espaço” com um chute e assim me tirou da sua frente, o bombeiro que vinha logo atrás me segurou para que eu não caísse pelo guarda-corpo, mas ele também não teve sorte, foi agredido por outro pichador com um soco no rosto e teve seu rosto e farda pichadas por outro pichador, os seguranças que pouco podiam fazer também levaram socos, chutes e pontapés. O resultado não foi só um protesto sujo como o que vimos na imprensa, mas sim agressões físicas que foram parar na delegacia.

Foi com profunda revolta que soube que os pichadores seriam convidados a participar desta edição, nada me fazia enxergar o convite com outro tom que não o de “premiação” pela invasão, sujeira e agressões físicas. Eu teria de visitar a Bienal e contemplar uma obra daquele que me agrediu? Nunca fui capaz de entender este convite.

Agora leio sem espanto, mas com nova revolta, que pichadores, novos ou reincidentes não sei, foram ao pavilhão e picharam a obra de Nuno Ramos e na marquise a obra d Kboco. Será que na 30º Bienal os pichadores serão convidados especiais, ou de honra, pelos próximos curadores? Ainda me pergunto: ingenuidade da curadoria em achar que ao convidá-los conseguiriam impedi-los de novo ataque? Eis a resposta. Espero que desta vez ninguém se machuque, que as equipes de educadores, seguranças, limpeza e bombeiros não sofram nenhum tipo de agressão física e que a reflexão gere discussão e não coroação do erro.

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